INCENDIO DE DENIS VILLENEUVE
O Cinema Canadense é um cinema diversificado e que explora temas que se diferenciam com o vizinho e principalmente das produções hollywoodenses, ainda que os canadenses se apropriam de muitas vantagens econômicas que está proporciona. Começamos com o diretor David Cronenberg, famoso pelo gênero de horror, explorando transformações físicas e a metamorfoses de seus personagens, no gênero de ficção científica de terror. Com uma produção desde os anos 60, os filmes que me impactaram são "Scanners" (1981), "A Mosca" (1986), "Gêmeos, Mórbida Semelhança" (1989), "M. Butterfly" (1993), "Crash, estranhos Prazeres" (1996) e "Senhores do Crime" (2007). Filme que questionam o normal é a fantasia entre a monstruosidade e o perverso no olhar das ações humanas. Denys Arcand é outro diretor canadense que me impressionou pela sua inteligência e o olhar crítico nas suas produções. Sua filmografia começa com "Seul ou avec d'autres" (1962), porém a sua reputação com diretor consolida-se com "O Declínio do Império Americano" (1986) uma crítica ácida ao mundo ocidental e as ideologias que governam o mundo. Na sequela "Invasões Bárbaras" (2003), ele supera essa crítica intimista ao impacto da morte pelo câncer e as escolhas que o afastaram de seus entes queridos. Porém, "Jesus de Montreal" (1989), "A Era da Inocência" (2007) e "O Testamento" (2023) são um verdadeiro olhar introspectivo da sociedade que envelhece e amadurece com decepção e falta de esperança.
"Incêndios" de Denis Villeneuve tem esse mesmo turbilhão de emoções, que leva o espectador a vivenciar desde a falta de esperança na sociedade até a solidão do segredo que deve ser guardado, mesmo provocando a depressão e abandono dos nossos entes queridos. Este filme me fez questionar a minha relação com meu pai. No filme os filhos percebiam uma mãe distante, desconhecida, imigrante, monótona, que trabalhou por mais16 anos como secretária, cumprindo o papel de alguém passivo, que nunca fez nada emocionante a não ser, sair de seu país e ser alguém obediente às leis. Meu pai veio do Chile ao Brasil em 1976, eu tinha apenas 9 anos, ele era um operário, em uma oficina de carros, não tinha amigos, era uma pessoa pacata, responsável, proveedor de sua família. Com 15 anos voltei ao Chile, fiquei com minha avó materna, que guardava com muito celo todos os tesouros da família. Álbuns de fotografias, lembranças e bugigangas familiares. Descubro que meu pai foi um militante das juventudes católicas, dirigente sindical, tinha ganhado reconhecimentos como melhor trabalhador, melhor companheiro. Hoje, desde sua partida, tenho um olhar mais cuidados com a sua lembrança e uma saudade infinita, depois dessas descobertas, minha relação de respeito e admiração se transformou em reconhecimento ao ser político que era, não somente ao pai, senão a sua história. Acho que acontece a mesma descoberta e admiração dos filhos com Nawal Marwan.
Assisti ao filme de Villeneuve em um DVD, era desconhecido para mim, não sabia que tinha ganhado o Oscar ao melhor filme estrangeiro em 2010, adorei a capa e o conceito de "A Mulher que Canta". Assisti novamente agora no Cine Cultura em seu novo formato em 4 K, e a emoção da primeira vez que assisti veio a tona. Chorava copiosamente, mesmo que tivesse assistido "Incêndios" diversas vezes, a tela grande me trouxe essas história de que mesmo depois de todas as desgraças que vc pode passar, sempre há uma lágrima de esperança e de vida. Os temas do filme são a Guerra do Líbano, o ódio a imigração dos cristãos libaneses em contra aos refugiados palestinos no sul do Líbano, a repulsa familiar, o terrorismo, a vingança, o ódio, a resignação e a empatia. Um filme que não deixa ninguém impávido nesta história humana e emotiva.
O Cinema como terapia e revisão do nosso olhar e história.
Viva o cinema e o Cinelubismo.





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