DOCUMENTÁRIO REGISTRA HISTÓRIA DE UMA DAS ESCRAVIZADAS MAIS INFLUENTES DE GOIÁS
Relatos sobre Chica Machado, escravizada que alforriou diversos negros em Goiás, integram a obra documental Chica Machado – Rainha de Goyaz, da diretora Renata Rosa Franco, realizada com recursos da Lei Paulo Gustavo, do Governo Federal, operacionalizado pelo Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado de Cultura.
Poucas mulheres goianas tiveram o prestígio e a projeção social conquistada por Chica. Mulher negra escravizada, que chegou à Goiás nos idos de 1750, no povoado de Cocal, região de Niquelândia, viveu maritalmente com Manoel Álvares da Silva, com quem teve seis filhos, conquistou sua alforria e passou a trabalhar para libertar diversos “irmãos” afrodescendentes, também escravizados. De mulher negra do período colonial, a senhora de terras a perder de vista, símbolo da libertação da escravatura e hábil negociante, Chica Machado construiu sua história para além dos livros e registros oficiais, chegando a eleger um de seus filhos deputado por Goiás na primeira constituinte do Brasil, em 1823.
Sua projeção e relevância vive na memória do povo que habita a região onde há 300 anos ela caminhou e prosperou, e é transmitida até hoje pela oralidade, o que lhe conferiu o ar de figura lendária por onde passou.
A obra é fruto da pesquisa de doutorado da diretora em Performances Culturais pela Universidade Federal de Goiás, que expandiu o trabalho acadêmico para as telas, ao realizar uma série de viagens para diferentes cidades goianas, buscando percorrer os caminhos traçados por Chica Machado: a cidade de Niquelândia, o povoado de Cocal, onde ela se estabeleceu para trabalhar na mina de ouro de mesmo nome descoberta na região; até chegar a Uruaçu, a antiga Ourofino e Jaraguá, última morada da personalidade junto a um de seus filhos, o padre Silvestre, figura ilustre do Estado, poliglota e deputado. O outro filho, Manoel Álvares, também era padre e figura ilustre da comunidade.
“O mais interessante de se observar é que, mesmo no século XVIII, a projeção de Chica Machado era tamanha que seu marido não é retratado pelo nome próprio, mas sim como marido de Chica. Seus filhos, mesmo sendo padres, e figuras influentes da comunidade, são lembrados como filhos da Chica. Ela foi o pilar dessa família e da comunidade da época, mesmo sendo mulher, negra e escravizada”, enaltece Renata Rosa Franco.
O curta documental parte em busca dos relatos transmitidos de geração em geração que mantêm viva a importância dessa figura lendária em terras goianas, responsável por construir a Igreja das Mercês, para permitir que os negros da sua época tivessem acesso a um templo sagrado para professar sua fé. E onde ela entrava carregada por uma liteira e tinha ouro em pó sendo jogado aos seus pés.
A riqueza de Chica Machado segue sendo um mistério até mesmo para aqueles que transmitem seus feitos. Alguns dizem que ela conquistou tudo por meio do ouro e que conseguiu comprar sua alforria com o ouro que ela escondeu durante a época em que trabalhou no garimpo. O que é inegável em todas as narrativas a seu respeito é que Chica Machado foi uma mulher notável, a ponto de seguir inspirando o protagonismo de mulheres que têm contato com sua história.
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