COMO E PORQUE ABRIR UM CINECLUBE EM GOIÁS

O nosso movimento cineclubista gera alguns questionamentos que as pessoas fazem quando se encontram com o nome “CINECLUBE”, em seguida aparecem perguntas que este texto trata de responder. A primeira pergunta e o que é um Cineclube? Para a Ancine (Agencia Nacional de Cinema) na Instrução Normativa Nº 63 de 2007, define como Cineclubes os espaços de exibição não comercial de obras audiovisuais nacionais e estrangeiras diversificadas, que podem realizar atividades correlatas, tais como palestras e debates acerca da linguagem audiovisual. Os cineclubes visam à multiplicação de público e formadores de opinião para o setor audiovisual, a promoção da cultura audiovisual brasileira e da diversidade cultural, através da exibição de obras audiovisuais, conferencia, cursos e atividades correlatas. Os Cineclubes deverão constituir-se sob a forma de sociedade civil, sem fins lucrativos, em conformidade com o Código Civil Brasileiro e normas legais esparsas, aplicando seus recursos exclusivamente na manutenção e desenvolvimento de seus objetivos a dirigentes, mantenedores ou associados.
O Manual do Cineclubismo da Rede de cineclubes do Chile estabelece que “um Cineclube ou Cine clube é uma organização de pessoas que se reúnem para apreciar obras cinematográficas de forma coletiva. O caráter democrático, reflexivo e participativo é inerente a esta atividade, que procura educar ao público através do debate horizontal entre os participantes e o acesso a obra que em geral não se encontra no circuito comercial. Os cineclubes são espaços constantes no tempo, sem fins de lucro e abertos a toda a comunidade, que não oferece um produto de consumo, senão a possibilidade de combater a alienação mediante a exibição e a discussão comum de obras audiovisuais, reivindicando o direito do público, a diversidade cultural e a educação cinematográfica, como forma de desenvolvimento dos povos”. Sendo assim, um cineclube é um grupo de pessoas que se reúnem em função do cinema, para escolher filmes, assistir, comentar e analisar obras cinematográficas. Em lugares definidos ou itinerantes, com uma periodicidade, que sejam gratuitos e democráticos, tanto na escolha como nos debates e analises do filme.
Uma segunda pergunta que surge é para que serve? Os Cineclubes são espaços gregários, ou seja, que reúnem pessoas para um bem comum. Os centros culturais abrem Cineclubes para que as pessoas conheçam suas instalações e assim ter um público fiel para suas outras atividades. Assim como, para ter acesso a fundos públicos em projetos que muitas vezes ninguém vê. As Universidades e cursos universitários realizam Cineclubes para o desenvolvimento de projetos de extensão cultural e pedagógica, uma forma de realizar atividades que unam os alunos e criem ações empreendedoras e cognitivas. As prefeituras abrem cineclubes para o desenvolvimento cultural, realizar novas atividades e reunir um público mais preocupado com as artes audiovisuais e o cinema, principalmente nos municípios que não tem cinemas comerciais, geralmente o cineclube passa a ser uma alternativa. Finalmente os cineclubes temáticos, que se reúnem a partir de temas definidos e agregam pessoas por suas afinidades, sejam elas politicas, econômicas, sócias ou culturais.
Como criar um cineclube? Existem várias formas de criar um cineclube. Eles estão organizados em diferentes formatos e adaptados a realidade em que se encontram. Não há receitas, mas alguns passos podem ser levados em consideração ao realizar um cineclube. Lembrando que o cineclube é uma associação, um conjunto de pessoas com interesses, necessidades, ou objetivos em comuns. O cinema é a principal razão para desfrutar, partilhar, aprender e conseguir seus objetivos. O cineclube pode ser formado pela localização geográfica, no bairro, na escola, na igreja, no clube entre outros. Pode ter características compartilhadas, como o grupo etário, colegas de profissão, gente que curte cinema, literatura, entre outros interesses em comum. Um passo importante é reunir um grupo de pessoas interessadas em cinema, discutir a ideia e os motivos para criação do cineclube. A temática é importante, filmes sobre educação, cultura, imigração, religião, esporte, política ou simplesmente recreativo. Definir o público que você quer atingir e definir o lugar onde serão realizadas as reuniões e sessões. Como conseguir os filmes, a divulgação, definir os custos, estabelecer as responsabilidades e conversar sobre as projeções do projeto.
Será necessário legalizar o Cineclube? A legalização é importante para a inscrição na Agencia Nacional de Cinema (ANCINE), ou a possibilidade de obter recursos públicos, patrocínios junto a órgãos públicos e/ou privados. Porem, o cineclube não necessita ser legalizados para funcionar normalmente. O processo de legalização de um cineclube passa pela realização de uma Assembleia de Fundação para definir um estatuto que rege a entidade. Estabelecer assembleias periódicas conforme a realidade de cada entidade e definir grau de formalidade que o Cineclube deve ter de acordo com sua realidade. Lembrando que os cineclubes são entidades democráticas que vão desde uma simples declaração de princípios (de conhecimento público) até um estatuto mais complexo.
A definição dos dirigentes ou gestores do cineclube deve ser definida em assembleia e permite responsabilizar e dividir funções para o melhor desenvolvimento da entidade. É recomendável manter uma estrutura simples e transparente pelo menos para começar. A divisão em comissões facilitará o trabalho do cineclube, como exemplo pode ilustrar uma Comissão de Programação, que discute, seleciona e programa os filmes, Comissão de Divulgação, que planeja, cria, produz e distribui o material de divulgação das sessões e atividades do cineclube. Comissão de Logística, que trata de obter, verificar e operar os equipamentos, a sala de projeção e outros aspectos de produção das atividades. Comissão de Captação, formar acervo próprio, conseguir filmes e autorizações dos produtores, ou no sentido econômico, elaborar projetos ou conseguir patrocinadores. Comissão de Produção, produzir filmes, documentar atividades, a comunidade ou outros temas.
A sistematização das atividades do Cineclube, definindo periodicidade das sessões (semanal, quinzenal, mensal, bimestral ou avulso), definição dos filmes (curadoria), moderação do debate (definindo modelos de análise cinematográficas) e definição da continuidade do Cineclube. As discussões sobre os filmes ou os temas e assuntos que devem ser debatidos devem ajudar a levantar e desenvolver uma atividade enriquecedora para todos, deve envolver o emocional e o intelectual, a inteligência emocional permite realizar conexões que envolvem as experiências vivenciadas com o filme e a bagagem cultural, política e social que fomos adquirindo intelectualmente.
A última pergunta, como manter um cineclube? Talvez a mais difícil de responder, os cineclubes são gratuitos, não pode cobrar ingressos para assistir os filmes, ou seja, os integrantes não receberão por seus serviços prestados. O Cineclubismo é um trabalho voluntario, é uma ação de entrega, onde o integrante doa seu tempo para um bem maior. A troca de conhecimento e experiência que acontece nas sessões cineclubistas é impagável. O fato de ter acesso a uma diversidade de opiniões, a tolerância e o respeito pela liberdade de expressar as experiências de todo àquele que deseje opinar, faz com que nossa sociedade se desenvolva de forma harmoniosa e respeitosa. Outra forma de manter um Cineclube é a criação de Redes de apoio, estabelecendo laços institucionais com as diversas organizações públicas e privadas para a manutenção e projeção dos cineclubes. Conhecer as regras de distribuição e legislação para exibição dos filmes, contatar entidades nacionais que representam os cineclubes a nível nacional, como o Conselho Nacional de Cineclubes (CNC), participar das organizações regionais como a União dos Cineclubes de Goiânia e intercambiar experiências e informações com os cineclubes do estado e do município permitem uma complementaridade e permanência no tempo.

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