Pensamentos de um Cineclubista em Goiás

Qual é o papel do Cineclubismo na cadeia produtiva do audiovisual goiano? Os cineclubes são espaços de exibição de filmes com posterior debate e analise o que permite uma apreciação diversificada da obra. O poder compartilhar experiências a partir da percepção do outro enriquece o olhar e a compressão do espectador. Assim, podemos encontrar que um filme pode ter uma gama diversa de interpretações e que a percepção de um filme e sua leitura pode variar de acordo com o estado de animo do observador, a companhia que esteja a seu lado e os desafios que possam influencias as analises feitas por outros espectadores. Sendo assim, um filme assistido diversas vezes, sempre vai ter uma leitura diferente, sempre haverá uma sequencia, uma cena ou detalhes que nos chama a atenção, pois o filme não é o mesmo e o observador sempre esta em constante transformação, devido as mudança em sua bagagem cultural, suas frustrações e conquistas.
A partir dos comentários anteriores, tratemos de responder a pergunta inicial. O realizador faz uma obra para que o público possa apreciar e compartilhar o resultado de uma inspiração transformada em uma nova experiência de sensações e sentimentos que se transformaram em uma obra cinematográfica. E claro, que também existem objetivos mais pragmáticos, que socializar um experimento recorrente da inspiração. Muitos realizadores sonham em ser descoberto, ganhar muito dinheiro e reconhecimento Professional e desejam poder viver de sua arte, transformando o sonho em um mecanismo capitalista de nossa sociedade. Muitos realizadores aprenderam que a forma de conquistar esse reconhecimento será enviar seus filmes a maior quantidade de festivais que possam participar. Assim podem ter a possibilidade de uma premiação, que muitas vezes não é em dinheiro, mas que abrirá novas portas para suas futuras produções. Os festivais são uma janela para o sucesso e o reconhecimento da criatividade.
Muitas instituições de formação audiovisual “vendem” o modelo do sucesso a partir dos festivais, da profissionalização do realizador, de seguir esquemas e modelos que o levará ao reconhecimento. Assim o realizador se distancia do público e se aproxima cada vez mais a tentativa do sucesso. As percepções das metas são como drogas que te distanciam do objetivo inicial. Que tua obra fosse apreciada, que as pessoas pudessem degustar das imagens e sensações projetada naquela tela. Que mesmo que não tenham compreendido a mensagem fazem o esforço de analisar e traduzir aquilo que o realizador tenta transmitir. O Cineclube tem essa magia, a de aproximar a obra, o realizador e o público. A crítica, não a partir de conceitos acadêmicos, da linguagem dúbia e que necessita do acompanhamento de um dicionário y que acaba com um analise indecifrável.
O cineclube aproxima, não somente o realizador e o espectador de forma inteligível, más sim de forma emotiva e sensitiva, mas também, ele democratiza o olhar. Ele transforma o público em participante da obra e permite ao realizador, tirar sua obra da gaveta e reviver seus sonhos, compartilhar as sensações e emoções experimentadas ao momento da realização e finalmente lhe permite avaliar seu processo de crescimento, pois na vida, com o tempo, nossa percepção muda, nossas expectativas se transformam e muitas vezes nossos sonhos se perdem. Sim, o Cineclube faz parte da cadeia produtiva, não pelo apelo econômico, mas sim pelo papel afetivo e interativo que significa ter alguém do outro lado da tela, alguém que possa te dizer, que não entendeu nada do filme, ou simplesmente, que adorou, e que foi a melhor experiência de seus últimos dias. Obrigado por compartilhar teus sonhos. Francisco Lillo é professor e cineclubista. Chileno de nascimento e goiano de coração. Coordenador da União de Cineclubes de Goiânia, coordenador do Cineclube Imigração, um cineclube dedicado ao cinema latino-americano e a educação. Fundador do Une Chile Goiás, uma associação dedicada à integração da comunidade chilena em Goiás.

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